Spencer - A tragédia em obra de arte.
Sobre Spencer, um obra de arte melancólica.
Pouco ou nada sei sobre a histórias de rainhas e reis.
Decorei uns quantos factos para passar nos testes de História, simpatizei com algumas histórias... absorvi outras em tempo real.
É inegável que Inglaterra é uma referência demasiado próxima para nos ser indiferente, lembro-me do dia da morte da Princesa Diana, de estar em casa a ver as noticias... da minha mãe chegar do trabalho e de eu correr para a porta para anunciar uma coisa, que me parecia trágica... mas que eu nem sabia muito bem o que significava.
Mas Spencer - o filme de Pablo Larraín - não trata desse momento. Já lá iremos...
Quando recebi o convite para o visionamento de imprensa no meu e-mail não lhe dei grande atenção. Não estava a par da produção, não vi nenhuma das sérias das plataformas de Streaming sobre a família real, não é o tipo de conteúdo que me prenda ou chame a atenção, diria que para além de Marie Antoinette de Sofia Coppola, nada que seja histórico ou "monárquico" fala ao meu coração.
Mas sou apaixonada por moda... e os figurinos eram um dos chamarizes desta produção, precisava de sair da minha rotina e decidi embarcar numa sessão matinal de cinema.
O que se seguiu depois foi um encontro profundo com fantasmas - bem resolvidos, para mim - um retrato fiel, doloroso e frio de um sentimento de não pertença, de desconexão, de profunda infelicidade. Diana, num filme que tem como titulo o seu nome de solteira, é a personificação da dor, da incapacidade de cumprir uma norma, de não querer ou saber pertencer, caprichosa, vazia e com a vida a pairar sobre si, ou o fim da vida. Pablo Larraín não retrata a morta trágica, no acidente inesquecível para todos, mas retrata a morte de Diana antes do seu renascimento. A Diana, perdão... a princesa Diana, bulimica, terrível, adorável e ao mesmo tempo desprezível. Que se ilumina na rebeldia, que volta a ter uma réstia de vida com os filhos.
As personagens da Rainha e do príncipe Carlos são - neste filme - acessórias, são apenas a certeza da dor infligida, mas acreditem ou não, até nutri uma certa simpatia por ambos, apesar de tudo.
Toda a luz, guarda-roupa, todo o filme... em ritmo e intensidade é poético. É uma tragédia escura e pintada mestria.
É um encontro com a melancolia, numa série de dias chuvosos e tipicamente cinzentos.